BIENAL INTERNACIONAL DE MARIONETAS DE ÉVORA em 2025
Quando em 1987 realizámos a sua primeira edição não podíamos imaginar que as marionetas tivessem uma tão grande capacidade de fascínio e atração junto do público. Sabíamos que os Bonecos de Santo Aleixo eram uns excelentes anfitriões da festa porque sentimos, em muitos momentos, nas aldeias de onde são originários e em diferentes palcos no país e no estrangeiro, o carinho que lhes dedica o público e também outros marionetistas que fomos conhecendo nos festivais onde fomos participando. Agora, quando começamos a falar da próxima edição da BIME, quando na rua entregamos o calendário dos espectáculos, a ligação acontece de imediato, o que revela o grau de atenção e expectativa que existe relativamente a esta iniciativa que ocupa lugar de destaque no calendário cultural da cidade. Provavelmente, um dos fatores que contribui significativamente para isso é a circunstância de termos espectadores que começaram a vir à Bienal pela mão dos pais e que hoje já são eles a trazer os filhos ou os netos a ver os bonecos. São as práticas regulares e consequentes que garantem a fruição cultural, a salvaguarda do património e que contribuem decisivamente para a formação dos públicos.
A nossa cidade dispõe de qualidades absolutamente extraordinárias para acolher eventos desta natureza.
A BIME e o público
O público local implica-se generosamente no evento; da mesma forma, sabemos que a BIME promove a vinda de muita gente de fora que gosta de nos visitar nesta altura. Claro que a qualidade dos trabalhos apresentados garante muita dessa capacidade de atração, mas temos plena convicção que o lugar onde tudo isto acontece dá um enorme contributo para a Bienal ser o que é. A nossa cidade dispõe de qualidades absolutamente extraordinárias para acolher eventos desta natureza, desde logo porque tem uma dimensão que facilita e promove naturalmente as relações humanas entre os espectadores, entre os artistas e destes com o público, porque nos encontramos constantemente. Viver a BIME no seu dia-a-dia é uma caixa de surpresas, não só pelo que cada espectáculo apresenta, mas também porque, a todo o momento, podemos ser atraídos por um recanto, uma paisagem, um pôr-do-sol ou uma determinada luminosidade. Quem sabe, até por uma conversa no degrau de uma portada numa noite de lua cheia. Évora tem o seu próprio tempo e será também por isso que a BIME é um encontro muito gratificante.
Que a Casa dos Bonecos seja espaço para outras marionetas e relação do público com diversos aspetos da vida dos títeres.
Estamos a caminho da Capital Europeia da Cultura, momento maior, esperamos, da vida cultural da cidade e da região. Lutámos para conseguir esse reconhecimento e queremos que esta classificação cumpra os objetivos assumidos para que a cidade e a região, à semelhança do que aconteceu nas outras cidades vencedoras, possa dispor de novas condições para o seu desenvolvimento e ver reforçados os meios para cumprir os desígnios de um novo ciclo de vida neste Alentejo esquecido, que tem sido demasiadas vezes discriminado negativamente.
Da nossa parte, temos naturais espectativas quanto à criação da anunciada Casa dos Bonecos, espaço que desejamos que acolha em excelentes condições todo o espólio dos Bonecos de Santo Aleixo que recebemos de Mestre Talhinhas, mas também o muito que foi possível guardar ao longo dos últimos quarenta anos de trabalho. Esperamos que seja igualmente um espaço para receber outras marionetas e assegurar a relação do público com os mais diversos aspetos da vida dos títeres. Évora tem hoje uma forte relação com o universo das marionetas e estamos seguros que este novo projecto da cidade será um importante contributo para desenhar um Centro Europeu da Marioneta.
Este ano o CENDREV cumpre 50 anos de atividade. Foi aqui que começou a descentralização cultural logo a seguir à Revolução do 25 de Abril, pela iniciativa de Mário Barradas que desafiou uma mão bem cheia de homens e mulheres de teatro que vieram para Évora determinados em cumprir o serviço público de cultura e começaram logo por devolver à cidade, ao seu público, o extraordinário Teatro Garcia de Resende que era então o entreposto do lixo de toda a cidade. Entre muitas outras coisas boas que se fizeram, Mário Barradas juntou a si um pequeno grupo para ir a Santiago de Rio de Moinhos falar com Mestre Talhinhas, propor-lhe vender todo o espólio dos seus Bonecos e vir a Évora, as vezes que fosse necessário, ensinar os rapazes e raparigas que estudavam na Escola de Formação Teatral que tinha sido criada com a companhia.
Nesta BIME, que se enquadra nas celebrações dos 50 anos do CENDREV, parece-nos legítimo valorizar a liberdade conquistada, mas também o cuidado manifesto que permitiu salvar uma importante parcela do nosso património, bem como o empenho num processo que garantiu ter os Bonecos de Santo Aleixo vivos e ativos durante todos estes anos e estarmos agora a iniciar a 17ª edição da BIME- Bienal Internacional de Marionetas de Évora.
Obrigado a todos, e são muitos, os que tornaram possível mais esta Festa dos Bonecos.
PRA QUE VIVA!